Vista do alto, a cidade aparenta uma unidade.
Esta aparncia uma desfaz-se, contudo, quando estamos dentro dela e
conhecemos suas inmeras divises. Dentro de uma cidade existem, por
exemplo, as ruas; nas ruas as casas; nas casas as famlias; nas famlias as
pessoas. Dentre as divises da cidade existem, particularmente, os bairros
uma grande rea formada por ruas, casas, famlias, pessoas... Uma espcie de
pequena cidade dentro da cidade maior. Muitos bairros tm o poder de
despertar a paixo de seus moradores. Tanto que, quando se quer dizer que
uma pessoa est fazendo a defesa apaixonada de uma determinada regio,
colocando-a acima das demais, chama-se esta pessoa de "bairrista".
Geralmente os bairros mais antigos so os que tm mais charme, exatamente
por terem mais histria. Mas tambm no raro um bairro virar tradio,
ainda que tenha sido criado h pouco tempo. No texto abaixo, contamos a
histria de alguns dos bairros mais famosos de Macap. necessrio
acrescentar que este texto foi baseado em declaraes do professor Estcio
Vidal Picano.
Bairro Central
O bairro Central o bero da cidade, fundada em 4 de fevereiro de 1758. a
"cidade velha" de Macap. O bairro encampou os primeiros bairros de Macap,
como o da Fortaleza, onde ficava a antiga doca; do Cemitrio; do Alto; do
Formigueiro, onde vivera a Me Luzia (Francisca Luzia da Silva) e da Favela
onde viveram grandes figuras da nossa cultura popular, entre eles Benedito
Lino do Carmo, o velho Congs, e D. Gertrudes. Ali se fixaram as primeira
famlias e a cidade cresceu.
Bairro do Laguinho
Segundo a tradio, o local era conhecido como "Poo da Boa Hora", onde
morava um senhor descendente de escravos. Nas horas do meio-dia e das seis
da tarde ningum se atrevia a ar pelo local, pois esse senhor fazia
malvadezas. A referncia do nome do morador (Pretinho) est na obra de
Fernando Canto: "Telas e Quintais". No foi encontrado ainda o local exato
onde ficaria localizado o "Poo da Boa Hora". Maioria dos moradores diz que
recebeu a estria de seus pais, e que estes receberam de seus avs.
O primeiro governador do ento Territrio do Amap, capito Janary Nunes,
depois de instalar seu governo, desejando a expanso urbana de Macap e de
reas nobres para construir prdios pblicos e residncias para o
funcionalismo e para a construo da prpria residncia governamental,
entrou em contato com os moradores da praa Baro do Rio Branco, a fim de
convence-los a aceitar uma transferncia de local.
Com a ajuda do lder, Mestre Julio (Julio Toms Ramos), os moradores da
praa formavam uma comunidade negra chamada vila Santa Engrcia. Esta vila
era o local onde se manifestavam as tradies folclricas amapaenses.
Os membros da comunidade aceitaram a proposta de Janary Nunes e tiveram suas
residncias transferidas para os campos do Laguinho, onde o governo havia
construdo uma srie de casas. O local se chamava campo dos Laguinhos porque
tinha suas terras cercadas por pequenos lagos.
O Laguinho era limitado, ao norte, pelo antigo campo de aviao onde o
cantador de Marabaixo, Raimundo Ladislau, escreveu estes belos versos,
daquele que pode ser considerado o Hino da Nao Negra do bairro do
Laguinho:
"Aonde tu vai, rapaz
Por estes campos sozinho?
Vou fazer minha morada
L nos campos do Laguinho..."
Mais tarde o Laguinho mudou de nome, ando a se chamar Julio Ramos.
Aps um plebiscito realizado entre a populao do bairrro, o local voltou a
ser chamado de Laguinho. L se encontra a Escola Estadual General Azevedo
Costa, a Unio dos Negros do Amap, alm da Praa Julio Ramos.
Bairro do Trem
Logo aps a instalao do governo territorial, foram encontrados no comeo
da avenida Feliciano Coelho de Carvalho, vestgios de alguns trilhos de
trem, que possivelmente serviram s carretas que transportavam material para
a construo da Fortaleza de So Jos de Macap, no sculo XVIII. Este
achado a fonte do nome do bairro do Trem.
Ali foram construdas as primeiras casas para abrigar os operrios que
chegavam ao Amap, para construir os prdios pblicos do Territrio. Por
este motivo o local ficou conhecido como Bairro Proletrio.
Bairro tradicional de Macap, ali surgiu o Trem Desportivo Clube, tendo como
fundadores Bellarmino Paraense de Barros, Benedito Malcher, os irmos Osmar
e Arthur Marinho, Walter e Jos Banhos, alm de outros.
Em 1 de maio de 1950 foi fundada a primeira escola do bairro, conhecida
atualmente como Escola Estadual Alexandre Vaz Tavares, em homenagem ao poeta
e poltico macapaense.
Nessa mesma data, em uma cerimnia que contou com a presena do ento
monsenhor Aristides Pirvano, do padre Antonio Cocco, do governador Janary
Nunes e seu secretariado, foi lanada a pedra fundamental da igreja de Nossa
Senhora da Conceio.
O bairro do Trem viu surgir, ainda, o Ypiranga Clube, atual campeo
amapaense de futebol profissional. Outras fontes de atrao do Trem so a
escola Santina Riolli, a praa da Conceio, padroeira do bairro, cuja data
comemorada em 8 de dezembro; o antes Museu de Plantas Medicinais Waldemiro
Gomes, que teve seu nome trocado para Museu do Desenvolvimento Sustentvel,
e a sede do Sesi.
O Trem um dos bairros mais tradicionais de Macap. L existiu, na dcada
de 50, o Bar do Barrigudo, na esquina da rua Leopoldo Machado com a avenida
Feliciano Coelho, onde eram realizadas saudosas batalhas de confetes,
resqucios dos velhos carnavais.
Beirol
A denominao deste bairro origina-se de um antigo paredo existente ali, no
final do sculo ado. O paredo servia de referncia para que os
artilheiros da Fortaleza de So Jos praticassem o tiro-ao-alvo, usando os
centenrios canhes da fortificao. A crnica da poca conta que o padre
Gregrio lvares da Costa, terceiro vigrio de Macap, destacava-se como
exmio artilheiro nestes exerccios. A ele competia dar lies de tiro e de
arte militar aos soldados da fortaleza. Os exerccios de tiro-ao-alvo eram
praticados nos dias santificados e nas datas cvicas.
Logo aps a instalao do governo territorial, foi construdo no local, que
ainda no se chamava Beirol, o primeiro presdio de Macap, mas tambm ficou
conhecido com o nome do bairro. Assim desfaz-se o comentrio tradicional de
que o bairro tivesse se originado do presdio.
No bairro encontram-se a maioria das estaes transmissoras das emissoras de
rdio e televiso do Amap; as antenas da Embratel; o balnerio do Arax; a
sede campestre do Sesc; a estao de tratamento de gua da Caesa; o Ginsio
Castelo Branco e a Igreja de So Pedro, entre outros locais de destaque.
Pacoval
O topnimo derivado de Pacobal, que segnifica "bananal", referindo-se
a um tipo de banana, chamada de pacova (ou pacova). Os primeiros moradores
deste bairro populoso foram os nordestinos, que localizaram-se s margens do
Lago do Pacoval, onde aram a praticar a agricultura rudimentar, sendo
que alguns tentaram trabalhar com a pecuria.
No sculo XVIII, Mendona Furtado mandou abrir um canal no Lago do Pacoval,
para o escoamento de suas guas, pois o canal era foco de mosquitos
transmissores da malria, que atingia os moradores da ento vila de So Jos
de Macap. As principais vtimas da malria eram os ndios. Por sinal,
existem no bairro duas reas que forram usadas como cemitrios. Um est
situado no comeo da avenida Piau e outros s margens do lago.
Tudo indica que o pacoval encontrado pelos colonos nordestinos tenha sido
plantado pelos indgenas. O bairro possui vrias escolas e igrejas,
destacando-se a de Nossa Senhora Aparecida. Ali esto localizados o Terminal
de Abastecimento e o Centro Social Asa Aberta.
Perptuo Socorro
Era o bairro do antigo Igarap das Mulheres, onde as mulheres lavavam as
roupas de suas patroas e tomavam confortveis banhos, ficando de guarda uma
mulher com uma espingarda, chamada de Lazarina, para o caso da aproximao
de algum do "Patologia feio" (nome que, no sculo ado, eram tratados os
nomes nos festejos do Marabaixo) para espi-las na hora do banho.
Hoje o bairro est totalmente saneado, com vilas e casas populares. Ali
existe tambm a Igreja de Nossa Senhora do Perptuo Socorro, padroeira do
bairro, alm de um centro social, um destacamento de polcia e um centro de
sade. Reportagem de
EDGAR RODRIGUES |